Para quem ainda não leu, resolvemos postar este artigo do Guilherme Cavallari já que, mesmo publicado em 22/12/2010 no portal Extremos, tem tudo de atual. É bem ao estilo daquele que nosso colaborador Felipe Torre de Flot escreveu numa excelente adaptação – “10 motivos para não praticar o Trekking”. Se ainda não leu nosso artigo clique aqui.
10 desculpas esfarrapadas para não se aventurar
Quantas vezes você, ilustre leitor e aventureiro, não ouviu todo tipo de desculpa quando convidou alguém para pedalar, correr, remar, escalar ou ver o pôr-do-sol do alto de uma montanha? Ou pior, quantas vezes você – você aí, não se faça de desentendido! – não usou uma dessas desculpas meia-bomba para evitar suar a camisa? Será que você – você aí, meu chapa, sentado na frente do computador, latinha de coca-cola na mão, pacote de bolachas aberto! – não está usando exatamente uma dessas desculpas para continuar chocando?
Pois vejamos.
Colecionei, ao longo dos anos, uma lista com as dez ladainhas mais populares, aquelas que parecem absolutamente indestrutíveis a olho nu – as chamadas “desculpas perfeitas”! – para não levantar da poltrona. Sinto informar, ilustre Dr. Pijama e Pantufa, que elas são todas esfarrapadas.
Então, se você se identificar com esse texto, ou se conhecer alguém que se enquadre, mantenha-o à vista, pregue-o na geladeira, envie via e-mail ou carta-registrada e engaje-se nesta minha campanha pessoal: “Aventureiros, aventurai-vos, tirem a bunda do sofá e comecem a suar!”
- EU NÃO TENHO TEMPO!
Ninguém tem tempo. O tempo não pertence a ninguém. Tempo a gente faz ou desfaz dentro das nossas cabeças. Se você é daqueles que passa horas por dia na frente do computador (gastando sua vista com joguinhos, visitando site de mulher pelada – ou homem pelado, porque ninguém tem nada a ver com isso – batendo papo com amigos que você nunca viu), assiste telenovela, fala horas ao telefone, faz nove refeições por dia… Se liga! Basta trocar esse tempo perdido por aventura. No final, você não vai se arrepender. Então, não me venha com ESSA desculpa!
- EU NÃO TENHO COMPANHIA
“Meus amigos não curtem aventura!” – essa é uma desculpa que ouço direto! Fácil de resolver – troque de amigos! Não é piada. Se você começar uma atividade de aventura (pedalar, escalar, caminhar, remar, por exemplo), vai conhecer gente diferente e acabar fazendo novos amigos. Quem sabe seus velhos companheiros de Internet, suas amigas de cerveja e pizza, não se animam e vão contigo descer um rio em um bote de rafting? Se as amigas insistirem, elas podem até levar a revista Caras dentro do bote.
- ESTOU SEM GRANA
Você já viu pedágio na curva de uma trilha? Já viu roleta flutuando num rio? E cobrador amarrado numa rocha? Eu ainda não. Aventura é uma das atividades mais baratas que existe, e quem disser o contrario merece dez chibatadas! Tem gente por aí que pensa que aventura é sinônimo de equipamento e para caminhar em volta de uma árvore o cara compra um GPS! Fique esperto! Com um tênis velho e uma mochila remendada você já pode virar o rei do trekking! Eu já vi gente correndo provas de aventura de tênis Bamba, já vi escalador fera de Ki-chute e já perdi muita corrida de MTB para ciclista com bike de supermercado!
- NÃO SEI POR ONDE COMEÇAR!
Pelo começo, óbvio. Que tal começar perguntando a alguém do ramo? Que tal perguntar para mim? Ó eu aqui! Hoje em dia, com a Internet, ninguém tem o direito de dizer “eu não sabia!” – não sabia porque não quis saber! Nenhuma atividade básica de aventura exige diploma, babá, guarda-costas ou sei lá o que. Quem quiser estudar, ler profundamente a respeito, ótimo, aproveite a oportunidade, eu conheço uns livrinhos bem bacanas inclusive… Quem não puder ou não quiser, comece seguindo quem sabe. A maioria das trilhas, rochas, rios e matas pertencem a todos nós, são propriedade pública. E o que é propriedade particular normalmente está aberto a todos, com ou sem taxa de uso, é só pedir licença, abrir a porteira e entrar. Só não se esqueça de fechar a porteira depois, se não as vacas fogem…
- EU NÃO TENHO CARRO!
Bom, se você quer fazer o Rally dos Sertões, então isso é um problema! Mas se você diz que não tem carro e, por isso, não faz trekking, não anda de bike ou não escala, então você nunca conheceu meu amigo Bill. O Bill é mountain biker das antigas, cinquentão, que nunca teve um carro na vida! Na verdade ele nunca comprou uma bicicleta! Ele sempre usou aquilo que os amigos emprestavam, ou cansavam de emprestar a acabavam dando de presente para ele. O cara tem um currículo com centenas de corridas de bike em todo lugar do mundo, sempre viajando de carona. Então, faça como meu amigo Bill, e se vire!
- MINHA NAMORADA (OU NAMORADO) NÃO DEIXA!
Já pensou em trocar de namorada ou namorado? Ou, menos radical, que tal encontrar soluções amigáveis e flexíveis? Minha mulher não pedala, por exemplo, enquanto eu pedalo até nos meus sonhos. Quando nós viajamos eu acordo bem cedo para pedalar, enquanto ela faz as coisas dela, pratica yoga, caminha, etc., eu volto antes do almoço e a gente passa o resto do dia juntos. Sem estresse. Se vamos a uma pousada, escolhemos sempre um lugar que agrade a ambos e mantemos o acordo inicial – as manhãs pertencem à bicicleta, as tardes e as noites ao casamento. O ideal é tentar incentivar o cônjuge a fazer aventura também, mas se não funcionar, basta os dois serem um pouco flexíveis para a aventura virar parte integrante do relacionamento. Ou isso ou entre num acordo: você entra com a botina nova e ele, ou ela, entra com a bunda velha!
- ESTOU MUITO FORA DE FORMA!
Em geral essa desculpa vem acompanhada de “eu não tenho tempo de treinar” ou “eu não tenho lugar para treinar perto da minha casa”. Então, para completar, a pessoa liga a TV e faz mais um sanduíche de atum com geléia de morango. Em primeiro lugar, estar em forma não significa ter o corpo do Arnold Schwartznegger, nem correr uma maratona por semana. Caminhar ao ar-livre é um esporte de aventura que requer pouco preparo físico e qualquer um pode treinar andando pela cidade. Ah, vai dizer que você nunca pensou nisso? O Julio Fiadi, primeiro brasileiro a chegar caminhando o último grau de latitude nos dois pólos da Terra, treinava caminhando pelos bairros do Pacaembú, Perdizes e Sumaré, em São Paulo. E ele ainda arrastava dois pneus de carro amarrados à cintura, para simular o trenó que ele puxaria nos Pólo Norte e Sul! Você não acredita? Pergunte a qualquer cachorro de rua da Zona Oeste…
- PRECISO DO EQUIPAMENTO IDEAL!
O que você chama de “equipamento ideal”? Um veículo 4×4 Hummer? Um capacete espacial com visão noturna infravermelha, GPS, bússola digital e telefone via satélite acoplados? O teletransporter da Jornada nas Estrelas? Bom, eu também quero tudo isso, mas, sinceramente, não preciso de nada disso! Pense nos escoteiros, que há décadas fazem todo tipo de aventura usando o equipamento mais básico que existe. No mundo inteiro escotismo é sinônimo de escola de aventura e o material que eles mais usam ainda é a lona! Nada de Gore-tex, Cordura-plus, fibra de carbono e sei lá mais o que! Quem pode ter o melhor, que tenha; quem não pode, vai fazer aventura do mesmo jeito… Só não vai sair tão bonito na foto.
- ACHO TUDO MUITO PERIGOSO!
Se você mora na Suíça, em frente do lago de Genebra, então tudo é realmente muito perigoso fora do seu bairro. Mas se você vive no Brasil, então repense essa desculpa. Tem gente pegando dengue em Copacabana, sendo sequestrado na Avenida Paulista, pisando em cocô de rato no Savassi, em Belo Horizonte! Então onde está o perigo? Eu acho mais perigoso atravessar uma rua sem semáforo do que escalar a Pedra do Baú; acho mais perigoso ficar preso dentro de um carro num engarrafamento do que dormir no mato; acho mais perigoso tomar chuva na cidade grande (que é ácida e tóxica) do que me jogar numa cachoeira. O perigo está em todo o lugar, mas o maior perigo é ficar trancado dentro de casa com medo.
- TENHO PREGUIÇA!
Ah, eu também! Todo mundo tem preguiça! Uns mais, outros demais! Mas sempre que percebo que a preguiça está ganhando o jogo, lembro do prazer que é subir uma montanha com a força das minhas pernas, chegar lá em cima e respirar o ar fresco e frio, olhar em torno e ver o mundo, sentir o cansaço dando espaço à satisfação, sentir orgulho por estar lá em cima e fazer parte de toda aquela grandeza. Depois eu sempre penso no que eu estaria fazendo se tivesse deixado a preguiça dar a palavra final… Dá vontade de rir!
Abraços,
Guilherme Cavallari
Fonte: Portal Extremos